Uma estreia e uma pergunta: «De que são feitas as ondas de rádio?»
O título da crónica é um pouco enganador. Já tinha ido muitas vezes à rádio. No entanto, nunca o tinha feito com um programa em meu nome. Pois, no domingo, foi lançado o Português Suave, na Rádio Observador. Se quiser ouvir, está já disponível nesta página.
Para assinalar a estreia, deixo por aqui uma crónica sobre a rádio. Ao contrário do que é habitual, não vou falar da palavra «rádio», que tem muito que se lhe diga (afinal, muda de significado conforme o género: nós sintonizamos a rádio no rádio…). Não, para variar um pouco, apetece-me antes perguntar: o que são as ondas de rádio?
O que é uma onda?
Comecemos por pensar no que é uma onda. A palavra começou por designar um movimento da água para cima e para baixo criado pela passagem de energia transmitida pelo vento (ou por uma pedra) — o movimento percorre a água, mas esta não sai do mesmo sítio. Se uma onda passa por uma bóia, esta sobe e desce, mas não se desloca.
As ondas no mar podem ter uma determinada frequência — uma a cada dez segundos, uma onda a cada dois minutos… — e uma determinada amplitude — as ondas que Garrett McNamara surfou na Nazaré são de amplitude gigantesca.
Ondas de luz
Ora, as ondas de rádio são a mesma coisa, mas em vez de serem ondas de água, são ondas do campo electromagnético. Estas ondas podem ser interpretadas como partículas chamadas fotões — uma palavra com a mesma origem de fotografia, ou seja, desenho com luz. E, de facto, as ondas de rádio são iguais às ondas de luz — e, tal como as ondas do mar, também têm frequência e amplitude.
Então, se são luz, por que razão não vemos as ondas de rádio? Apenas por limitações técnicas dos receptores que temos na cabeça, também chamados olhos.
A luz visível corresponde à parcela das frequências das ondas electromagnéticas que o nosso corpo consegue apanhar. Conseguimos hoje criar equipamentos para ver luz em frequências superiores (ultravioletas) e em frequências inferiores (infravermelhos) às da luz visível. Se descermos muito a frequência, chegamos às ondas que convencionámos chamar ondas de rádio. Para a natureza, não há divisão entre rádio e luz: são ondas/ partículas que funcionam da mesma maneira.
A rádio agora a cores
As cores que vemos à nossa volta são interpretações que o nosso cérebro faz de determinadas frequências de ondas electromagnéticas. As estações de rádio também são frequências de ondas electromagnéticas. No fundo, «vermelho», «Rádio Comercial», «violeta», «Rádio Observador», «amarelo», «Antena 1», «verde», «Renascença» — são tudo nomes que damos a frequências diferentes das mesmas ondas.
Todas as línguas têm nomes que dividem o espectro luminoso, de uma maneira ou de outra, porque quase todos os seres humanos estão sintonizados para receber ondas electromagnéticas com os olhos. Durante milhares e milhares de anos só demos nomes às frequências que a natureza nos permitiu ver. Para as frequências mais baixas, precisámos primeiro de inventar a rádio.
E o que fazemos com essas cores que os nossos olhos não apanham? Entre outras coisas, usamo-las para transmitir sinais que os rádios conseguem transformar em som. Ou seja, usamos luz que não vemos para ouvirmos à distância.
Lá engenhosos somos nós.
Pronto, dito tudo isto, fica o convite para ouvir o primeiro episódio do Português Suave.