O problema dos nomes iguais
Quase todos partilhamos o nome com mais pessoas. Quando encontramos um homónimo, sorrimos — mas, às vezes, as coisas não correm muito bem...
Há muitas pessoas com nomes iguais — e nem sempre as coisas correm bem. Há uns anos, várias pessoas ficaram convencidas de que o português João Sousa (com S) tinha sido banido do ténis. Ora, quem foi banido foi o João Souza, que tem um Z no nome e é brasileiro. Curiosamente, os dois tenistas já chegaram a jogar um contra o outro, em 2015. Tenho pena do João Sousa — mas tenho ainda mais pena do comentador desse jogo.
O certo é que muitos de nós temos pessoas com nomes iguais a passear pelas ruas de Portugal e, provavelmente, doutros países. Já descobri vários dos meus homónimos. Um deles é professor na minha antiga escola primária e já cheguei a cumprimentá-lo. Outro é professor universitário em Lisboa (ainda ninguém nos confundiu, acho eu). Há ainda Marco Neves, homónimo especialista em inteligência artificial, que acompanho por gostar de ler o que escreve sobre o tema.
Descobri ainda que há um Marco Neves especialista em tacógrafos (o que dá sempre jeito). Soube também, depois de receber umas mensagens transviadas, que, no Brasil, trabalho na área do petróleo (o que não me parece nada mau).
Por fim, há por aí um homónimo meu que não pagou a prestação do carro.
Descobri este último homónimo — que não conheço e espero não estar a envergonhar com esta crónica (não se preocupe, somos muitos, ninguém sabe quem é!) — ao receber uma mensagem a solicitar o pagamento da prestação. Pensei que fosse mais um exemplo de spam. Recebi duas mensagens, três, quatro... Olhei com mais atenção para o texto e para o endereço. A ausência de erros ortográficos fez-me desconfiar. Aquilo, se calhar, não era a brincar.
Respondi a uma das mensagens a dizer que não era eu, que tinha havido algum engano. Disseram-me que não havia engano nenhum e que este era o endereço de e-mail que eu tinha indicado. Lá lhes disse que talvez fosse o endereço de e-mail que alguém tinha indicado, mas não eu... A nova mensagem dos meus supostos credores já dava mostras de maior desconfiança. Estaria eu a tentar fugir às minhas obrigações? Não me chamava eu Marco Neves, com o endereço de e-mail tal e tal? Sim, chamo-me Marco Neves, tenho esse endereço de e-mail, mas não comprei nenhum carro a Vossas Excelências, nem devo o dinheiro que me dizem que devo.
Informaram-me então de que, perante esta atitude, teriam de enviar o caso para os advogados.
Depois de contar até 10, olhei para a assinatura por baixo da mensagem e telefonei para o número. Quando disse o meu nome, a senhora expeliu um «Ah!» em tom de «já te apanhei!». Com calma, expliquei que haveria um homónimo devedor — e ladrão de endereços alheios —, mas que não era eu.
Por fim, a senhora acreditou em mim — não é maravilhoso usar a voz para esclarecer imbróglios? Pediu-me muitas desculpas, disse que iria corrigir as informações no sistema e que eu não iria ser contactado de novo... Ainda pensei em perguntar: nem se eu quiser comprar um carro? — mas calei-me.
Desligámos o telefone, preparei-me para voltar à minha vida habitual, quando recebo uma chamada do número para o qual acabara de ligar.
Mau...
«Sr. Neves... Só uma pergunta: por acaso não sabe qual é o e-mail do outro senhor?...» Informei-a de que por acaso, não sabia — mas que se viesse a saber, lhe diria. Até hoje, não encontrei o homónimo, mas recebi algumas mensagens de e-mail a agradecer o pagamento da prestação. Fico feliz pelo outro Marco!
Antes de terminar, resta-me dizer que há uma palavra brasileira que dá muito jeito para falar de homónimos: xará. Todas as pessoas de que falei acima (tirando os tenistas e os credores) são meus xarás.
Enfim, esta crónica não fala de eleições, não resolveu nenhum problema grave do país, mas informou o mundo de que o João Sousa não foi banido do ténis, que os brasileiros têm uma palavra engraçada para «homónimo» e que o autor deste texto não deve a prestação do carro. Já não é coisa pouca.